domingo, 12 de outubro de 2008

O Encontro

Quando virei a esquina estava muito escuro, não dava para saber se era uma rua ou um beco. Pensei e pensei, tirei o papel do bolso, conferi, era ali mesmo. Dei uma de filme americano "tem alguém aí?". O eco foi alto, eu me assustei e ouvi uns barulhos de pequenos corre-corre. Seriam ratos. Ratos? Não, eles não iriam combinar comigo num beco escuro, sem saída, cheio de ratos. Pensando bem, iriam sim. Dei uns quatro passos à frente, minha vista foi escurecendo rapidamente, e minhas mãos começaram a suar. Mau sinal. Eu queria encostar na parede e ir me esgueirando, mas não tinha parede. Eu teria de ir em frente, mas não enxergava onde estava pisando, fiquei com medo de cair num buraco ou coisa pior. Parei. Fiquei ouvindo. Dei mais uns passos. "Tem alguém aí?", repeti. Algo passou atrás de mim, muito rápido, muito grande. Quando me virei para voltar para a rua, a escuridão tinha tomado aquele lado de onde eu viera e não sabia mais onde estava. Meus pés começaram a suar também e uma pressão me subiu à cabeça. Eu reconhecia aqueles sintomas. Era puro e simples pavor. Silêncio. Eu queria voltar, mas não sabia mais para que lado. Estiquei o braço direito procurando por alguma coisa que tinha medo de encontrar. Andei mais um pouco, bem devagar, não sabia se estava indo ou vindo, muito menos para que lado. Olhei para cima, não tinha céu. Senti que o pior estava por vir, que era o choro. Eu iria chorar por medo de algo que não sabia o que era. Estava paralisada. Juntei os braços no peito, apertei as mãos junto ao queixo, fechei os olhos. A escuridão de olhos fechados é mais reconfortante que de olhos abertos. Senti que algo se aproximava, lentamente, silenciosamente. "Por favor, tem alguém aí?". Estava com medo de abrir os olhos e "ver". Parou. Estava gelada, dos pés à cabeça. Suava frio. As lágrimas vieram, finalmente, inexplicavelmente, silenciosamente. Se eu voltasse de costas. Claro, tinha vindo reto, voltaria reto. Ou não? Não conseguia me lembrar de que lado tinha vindo. Não precisava abrir os olhos, era só andar. Dei um passo, dois, três... Parei. Tinha ouvido algo atrás de mim. "Pelo amor de Deus, tem alguém aqui?". Silêncio. "Por favor!", chorava. Ajoelhei e chorava; deitei no chão, os ratos, os bichos. Cobri o rosto. "Por favor...". Foi quando ouvi a risada, cínica e silenciosa. E nunca mais abri os olhos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Beth,

Por favor não pare de escrever nunca. Suas "bobagens" são lindas, fundas e poderosas. Vou vir te visitar muitas outras vezes.

beijo

Carla.