sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Quando a pedra atirada voltará, inevitavelmente...

Estava lendo uma matéria num site de relacionamento, “O preconceito nosso de cada dia”, mas me ocorreu que há um preconceito que, mais dia, menos dia, todas irão enfrentar. A idade.

Para os jovens (todos), pessoas com mais de 30 anos (ou 25?) são consideradas “dinossauros”, “aquela coroa”, “ih, sucata” e coisas quetais. Como é notório, os jovens sabem TUDO e pensam que o mundo foi inventado quando surgiu o primeiro PC . Antes disto, tudo eram trevas.

As lésbicas de hoje, assumidas e bem-resolvidas (quase todas), não têm idéia do que a gente passou, nas décadas de 60 e 70 (minha época), ou o que outras lésbicas “históricas” passaram para que vocês, jovens, tivessem esta liberdade. Se eu dissesse que era lésbica, em 1968, quando eu tinha 19 anos, seria expulsa da cidade! Se eu gostasse de uma menina, teria que namorar o irmão dela pra poder ficar pelo menos por perto e assim poder fazer amizade com ela. Mas intimidades, nem pensar! Eu frequentava uma turma de rapazes – principalmente por não me identificar com os pensamentos “cinderélicos” das minhas amigas – e era considerada uma prostituta, pois fumava, falava palavrão, bebia e ficava pela rua nas madrugadas.

Depois me mudei para o Rio e a primeira namorada que tive era oito anos mais velha que eu. Eu tinha 26, ela 34. Foi mesmo a minha primeira namorada. Durou três anos. Aí eu já tinha 29 anos. Depois dos 30, freqüentávamos, em Ipanema, um bar chamado Pizzaiollo, conhecido por ser um “reduto” de lésbicas. Ali, as pessoas paravam na calçada para ficar nos observando, como se fôssemos peixes de aquário (ou bestas do Apocalipse?!), as senhoras colocando a mão na boca, se benzendo, os homens fazendo “ts, ts, ts”, e comentando “elas são assim porque não foram bem fodidas!”.

Acabei ficando mais amiga de gays homens do que das mulheres, pois elas viviam escondidas, quando se casavam se encerravam em casa, e só frequentavam outros casais lésbicos. Aí se formava uma “panela” difícil de penetrar. E também, e principalmente, porque eu já havia passado dos 30 anos. Foi aí que as coisas começaram a se complicar; pela rejeição que já então sentia, comecei a engordar feito uma louca, a beber muito para ser simpática, sem me dar conta de que isto me afastaria mais e mais das lésbicas, fosse qual fosse a idade. Procurava sempre pelas mais velhas, mas emperrava no quesito “mais pobre”. As lésbicas que se assumiam eram ricas e/ou famosas ou artistas. (Conheci juízas, promotoras, delegadas, advogadas, mas que não saíam do armário nem pra tomar um arzinho, embora fizessem aquele gênero que as pessoas rotulavam de butcher, dyke, sapatão ou coisa que o valha!).

Comecei a fazer análise, melhorei um pouquinho, mas, como naquela comunidade do Leskut – e então eu já entrava nos 40 –, não sabia “chegar em minas”. Sempre me apaixonava pela pessoa errada, nunca deixava claras as minhas intenções, às vezes (pelo menos duas) as “minas” quiseram ficar comigo e eu desconversei, pois elas eram mais jovens que eu, e eu era gorda e boba. Ou seja, acabei traumatizada e mais gorda!

Hoje tenho 59 anos, continuo solteira, me relacionei, por duas vezes, com uma mesma garota, hoje com 35 anos. Mas há cinco anos resolvi fazer a cirurgia de redução de estômago, emagreci 45 kg, melhorou bem a minha cabeça, minha auto-estima, mas o trauma ainda está lá. Continuo na análise, de onde, penso eu, não poderei sair tão cedo!

Há um barzinho superagradável, de novo em Ipanema. Gosto de ir lá, o espaço é pequeno e quando me sento, sempre sozinha, em uma mesa onde só cabem duas pessoas e chegam duas meninas e não tem mais lugar, sinto-me fulminada. Já chegaram a me perguntar se “a senhora vai demorar muito” ali. A gerente morre de rir, diz pra eu não me preocupar, elas que se virem... Mas, sinceramente, é muito desagradável. Daí que vou me trancando, não só em casa, como emocionalmente. Quando me chamam de senhora no MSN, então...

O pior(?!) é que não sou uma pessoa desagradável, sou inteligente, simpática, bem humorada, culta, não gosto de confusão, baixaria, e nunca reclamaram (pelo contrário!) do meu desempenho na cama. Mas aí já é outro assunto... e sabedoria conta!

Então fico pensando, e jogo a pergunta para vocês: será que a defeito é meu, por não saber chegar em minas, ou é das minas, que não deixam o caminho sinalizado?

7 comentários:

Héllen disse...

Olá Beth...fiquei pensando sobre essas coisas..mas só pelo fone pra a gente conversar melhor...tem mtas coisas em jogo aí...rs..bjoka

Marisa disse...

Oi, Beth...

Já li e deixei uma msg para vc no seu perfil no Leskut.
Estou lendo seu blog. E ouça: vc é rara. Quero ser sua amiga. Posso?? Quem sabe um dia possamos conversar nesse bar em Ipanema, e não sermos incomadadas.
Não vamos perder o contato, ok? Estou adorando ler o que vc escreve.
E sobre o assunto, lembro de uma frase que ouvi de Bibi Ferreira :

"Minha velhice é permanente, mas sua juventude é transitória."

Pois é, o que percebo é o mesmo que você. Aqueles com menos de 25, acham que o mundo começo no dia em que eles nasceram. Mal sabem eles que "não é bem assim que a banda toca".
E mais uma vez: estou lendo seu blog, e estou adorando seus textos.

bjos
Marisa

Marisa disse...
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Stefanie disse...

QUE BELA!! vc voltou mesmo a escrever!!
eu atualizei o meu hoje. to saindo.. mais a noite paro pra ler teu posts.;

BEIJOS!

Stefanie disse...

Olha,eu confesso q tb não sei chegar mas como não sou uma mulher q atrai pela beleza, tive q descobrir meus dotes de DOn Juan.
Mulheres nunca deixam sinalizado. Pelo menos, para mim..sempre foi literalmente UMA caça! eu adoraria ser caçada.. fato q nunca ocorreu.
então quando eu me interesso,pego pelo colarinho e ponho na parede..rs!
Infelizmente o BRasil ainda é um país onde se valoriza a maladragem a SUPERFICIALIDADE das bundas e peitos carnavalescos,falta de crítica e a juventude.
Deveríamos ter nascido na china, índia ou tribos indígenas onde a experiência somado a anos vividos torna a pessoa a "sábia". Aquela que orienta e julga.
Beth, conhece a história do patinho feio?
Não era ele que era feio, era o AMBIENTE que estava completamente errado.
Já sou sua fã!
bjs de são paulo chuvosa

Eli disse...

Oi Beth!
Vc é maravilhosa e escreve com tanta propriedade,parabéns!
Tenho 45 anos e já estou passando por situações semelhantes,sempre gostei das maduras,porém hoje elas procuram meninas de 25 e as de 25 me procuram...rs..e o encontro não acontece..Felicidades!
Eli.

sombra disse...

Então, tenho 45 anos, sou negra e uma condição social nada elevada, alem de td sou casada e me descobri les a dois anos atrás...Ás vezes me sinto um alien, a idade trás uma certa "maturidade física" q. assusta!, só quem está nessa situação sabe a loucura q.é. Estou passando por isso nesse momento e só não entrei em parafuso por q. tenho apoio do meu ex marido e por mais incrível q. possa parecer muitas jovens (hetero) me colocam prá frente, me dão ânimo e vontade prá continuar na busca de uma companheira, que me aceite com as minhas idéias, problemas e convicções. É realmente muito triste ver q. nessa sociedade em q. vivemos depois dos 30 vc é tratado como um trapo. Para muitos , depois dessa idade vc não tem mais direito de querer amar, querer transar, sair ou ter amigos.Vc só pode trampar e ficar em casa vegetando...sinto muito por eles, minha matéria já está desgastada, mas meu espírito e meu coração são como de uma criança, novinhos em folha... Beijos á tdos. Sandra