Estava lendo uma matéria num site de relacionamento, “O preconceito nosso de cada dia”, mas me ocorreu que há um preconceito que, mais dia, menos dia, todas irão enfrentar. A idade.
Para os jovens (todos), pessoas com mais de 30 anos (ou 25?) são consideradas “dinossauros”, “aquela coroa”, “ih, sucata” e coisas quetais. Como é notório, os jovens sabem TUDO e pensam que o mundo foi inventado quando surgiu o primeiro PC . Antes disto, tudo eram trevas.
As lésbicas de hoje, assumidas e bem-resolvidas (quase todas), não têm idéia do que a gente passou, nas décadas de 60 e 70 (minha época), ou o que outras lésbicas “históricas” passaram para que vocês, jovens, tivessem esta liberdade. Se eu dissesse que era lésbica, em 1968, quando eu tinha 19 anos, seria expulsa da cidade! Se eu gostasse de uma menina, teria que namorar o irmão dela pra poder ficar pelo menos por perto e assim poder fazer amizade com ela. Mas intimidades, nem pensar! Eu frequentava uma turma de rapazes – principalmente por não me identificar com os pensamentos “cinderélicos” das minhas amigas – e era considerada uma prostituta, pois fumava, falava palavrão, bebia e ficava pela rua nas madrugadas.
Depois me mudei para o Rio e a primeira namorada que tive era oito anos mais velha que eu. Eu tinha 26, ela 34. Foi mesmo a minha primeira namorada. Durou três anos. Aí eu já tinha 29 anos. Depois dos 30, freqüentávamos, em Ipanema, um bar chamado Pizzaiollo, conhecido por ser um “reduto” de lésbicas. Ali, as pessoas paravam na calçada para ficar nos observando, como se fôssemos peixes de aquário (ou bestas do Apocalipse?!), as senhoras colocando a mão na boca, se benzendo, os homens fazendo “ts, ts, ts”, e comentando “elas são assim porque não foram bem fodidas!”.
Acabei ficando mais amiga de gays homens do que das mulheres, pois elas viviam escondidas, quando se casavam se encerravam em casa, e só frequentavam outros casais lésbicos. Aí se formava uma “panela” difícil de penetrar. E também, e principalmente, porque eu já havia passado dos 30 anos. Foi aí que as coisas começaram a se complicar; pela rejeição que já então sentia, comecei a engordar feito uma louca, a beber muito para ser simpática, sem me dar conta de que isto me afastaria mais e mais das lésbicas, fosse qual fosse a idade. Procurava sempre pelas mais velhas, mas emperrava no quesito “mais pobre”. As lésbicas que se assumiam eram ricas e/ou famosas ou artistas. (Conheci juízas, promotoras, delegadas, advogadas, mas que não saíam do armário nem pra tomar um arzinho, embora fizessem aquele gênero que as pessoas rotulavam de butcher, dyke, sapatão ou coisa que o valha!).
Comecei a fazer análise, melhorei um pouquinho, mas, como naquela comunidade do Leskut – e então eu já entrava nos 40 –, não sabia “chegar em minas”. Sempre me apaixonava pela pessoa errada, nunca deixava claras as minhas intenções, às vezes (pelo menos duas) as “minas” quiseram ficar comigo e eu desconversei, pois elas eram mais jovens que eu, e eu era gorda e boba. Ou seja, acabei traumatizada e mais gorda!
Hoje tenho 59 anos, continuo solteira, me relacionei, por duas vezes, com uma mesma garota, hoje com 35 anos. Mas há cinco anos resolvi fazer a cirurgia de redução de estômago, emagreci 45 kg, melhorou bem a minha cabeça, minha auto-estima, mas o trauma ainda está lá. Continuo na análise, de onde, penso eu, não poderei sair tão cedo!
Há um barzinho superagradável, de novo em Ipanema. Gosto de ir lá, o espaço é pequeno e quando me sento, sempre sozinha, em uma mesa onde só cabem duas pessoas e chegam duas meninas e não tem mais lugar, sinto-me fulminada. Já chegaram a me perguntar se “a senhora vai demorar muito” ali. A gerente morre de rir, diz pra eu não me preocupar, elas que se virem... Mas, sinceramente, é muito desagradável. Daí que vou me trancando, não só em casa, como emocionalmente. Quando me chamam de senhora no MSN, então...
O pior(?!) é que não sou uma pessoa desagradável, sou inteligente, simpática, bem humorada, culta, não gosto de confusão, baixaria, e nunca reclamaram (pelo contrário!) do meu desempenho na cama. Mas aí já é outro assunto... e sabedoria conta!